
No início do século passado, fumar era uma alternativa aceita a mascar tabaco para os homens; para as mulheres, era ousado. Então, em meados do século, tornou-se a norma. Conforme os perigos do tabaco –e o comportamento escandaloso das companhias de cigarro em esconder esses perigos– tornaram-se impossíveis de ignorar, fumar assumiu uma nova identidade, como um mal social.
Hoje os fabricantes de cigarros eletrônicos tentam conquistar a aceitação pública do “vaping” \[algo como "vaporização"], como é conhecido o uso de seu produto. Mas alguns profissionais de saúde temem que aprovar o cigarro eletrônico possa desfazer décadas de trabalho de demonização do próprio hábito de fumar.
Está em jogo um mercado que cresceu em poucos anos para cerca de US$ 4 bilhões em todo o mundo. Isso é pouco comparado com os US$ 90 bilhões do mercado de cigarros só nos Estados Unidos. Mas um analista de Wall Street projeta que os cigarros eletrônicos vão superar os comuns na próxima década.
“Estamos tentando fazer algo muito desafiador: mudar um hábito que não apenas está arraigado, mas que as pessoas se dispõem a levar para o túmulo”, disse Weiss. “Para realizar isso, temos de estreitar o máximo possível a ponte para a familiaridade. Temos de facilitar para que os fumantes a cruzem.”
Para alguns na saúde pública, uma preocupação é que tornar novamente aceito um comportamento semelhante a fumar, em vez de levar ao abandono, acabe reanimando o hábito e provoque novos casos de enfisema, doença cardíaca e câncer de pulmão.
O NJOY King, que custa US$ 7,99, é descartável e tenta entregar tanta nicotina quanto um maço de 20 cigarros. Outros tipos de cigarros eletrônicos são recarregáveis, e seus refis de nicotina fluida custam cerca de US$ 3 ou US$ 4.
No interior do tubo de policarbonato do NJOY, há um circuito integrado, um pequeno chip de computador. Depois há uma bateria de íons de lítio e um pavio enrolado em algodão embebido em nicotina, glicerina e propilenoglicol. A bateria é ligada quando o usuário dá uma tragada no tubo, aquecendo o interior do dispositivo a cerca de 65 graus centígrados e transformando a nicotina em vapor.
O eCigs da Blu, maior concorrente da NJOY, são tubos pretos finos com pontas que brilham em azul, não vermelho-brasa.
Murray S. Kessler, presidente da Lorillard, descreveu seu visual como “moderno” e “bacana” e disse que a aparência lhe dá uma maior probabilidade de ser um “substituto completo” do cigarro.
Os acionistas “não se importam se vendemos cigarros ou cigarros eletrônicos”, disse ele, desde que a companhia dê lucros.
A Lorillard disse que vai gastar US$ 40 milhões neste ano em marketing, orçamento que representa 35% dos US$ 114 milhões em vendas da Blu no primeiro semestre deste ano.
Duas outras empresas de cigarros estão explorando o mercado. O MarkTen, da Altria, pode ser recarregado e está sendo vendido em Indiana como teste. O Vuse, da R. J. Reynolds Tobacco Company, é um modelo prateado longo, que está sob testes no Colorado.
Nos EUA, o departamento federal que administra remédios e alimentos (DEA), que tem o poder de regulamentar, mas não de proibir, os produtos de tabaco, disse que pretende emitir em breve regras preliminares para comentário público sobre a regulamentação do cigarro eletrônico. No mês passado, o Parlamento Europeu endossou limites para o patrocínio e a publicidade de cigarros eletrônicos e sua venda para menores, mas evitou regulamentos mais duros que os teriam classificado rigidamente como equipamentos médicos.
A maioria das autoridades de saúde parece concordar que os níveis de toxinas dos e-cigarettes são muito mais baixos que os dos cigarros tradicionais. Mas elas também dizem que se sabe muito pouco sobre os aspectos potencialmente malignos de determinadas marcas e se há danos para os “fumantes passivos”. Um estudo publicado em setembro na revista médica britânica “The Lancet” descobriu que, após seis meses fumando cigarros eletrônicos, 7,3% dos usuários tinham parado de fumar tabaco. (O índice de eficácia dos adesivos de nicotina foi 5,8%.)
Nos EUA, 40 secretários de Justiça pediram a regulamentação federal de “um produto viciante cada vez mais disseminado”. Eles destacaram um comercial de televisão do NJOY em que o produto é exatamente igual a um cigarro.
Weiss não vê o problema: “Queremos que ele pareça ao máximo com um cigarro porque é assim que vamos fazer os fumantes mudarem de comportamento”.
Folha de S.Paulo
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